E fui monitorando as contrações durante todo aquele dia. As contrações não cediam, pelo contrário, iam ficando mais fortes e, de forma bem vagarosa, menos espaçadas. Quando estavam por volta de 8 em 8 minutos, eu já não sabia o que fazer, já estava ficando dolorido ficar esperando sentada no sofá contando as contrações, então resolvi tomar um banho para relaxar. Não sei o que o banho provocou, mas aquele banho deu uma acelerada em minhas contrações que não entendi como um simples banho pode ter alterado todo um trabalho de parto. Saí do banho com contrações de 6 em 6 minutos. Dali a uma hora eu já estaria com contrações de 4 em 4 minutos. De qualquer maneira, o banho apesar de aumentar a frequencia das contrações, deu uma diminuída na intensidade (doiam menos). Mas passou umas duas horas e já estava com contrações fortes novamente e de 4 em 4 minutos. Liguei para minha doula, Renata Olah, para já deixá-la de sobreaviso, que achava que seria hoje o grande dia. Ela me avisou que tinha uma reunião do grupo que organiza, MadreSer, em Sumaré, mas que ficaria de sobreaviso. Pediu para eu avisar a Mari (GO) qualquer evolução. Liguei para a minha família em Ouro Fino e para a minha irmã que está se formando em medicina em Pouso Alegre, mas já estava em Ouro Fino esperando a minha ligação para virem. Ela também iria assistir o meu parto. Quando as minhas contrações estavam de 3 em 3 minutos, liguei para a Mari. Ela iria sair, mas dali a uma hora passaria em minha casa. Nesse momento as contrações não estavam regulares quanto a intensidade, mas estavam regulares quanto ao tempo. Assim tinha umas contrações que provocavam pouca dor e outras que provocavam muita dor. Quando senti essas contrações mais doloridas eu tive certeza que já estava em trabalho de parto. Antes por mais que eu tenha ficado o dia todo com contrações e dores, eu sabia que as contrações podiam parar, podia ser um falso trabalho de parto... mas naquele momento, eu pensei, suada, e já sofrendo "É hoje que meu Henrique vai chegar". Por volta das 21 horas a Mari chegou em minha casa. Enquanto ela estava subindo no elevador, deu uma das contrações super doloridas, de forma que quando ela chegou a contração já tinha passado e eu teria 3 minutos sem contrações, sendo que a próxima poderia ser a de intensidade mais fraca. Dito e feito, quando ela chegou, eu estava tranquila, ela estranhou e na hora de me examinar, foi o momento da contração fraca... E, para o meu desespero, depois do sofrimento de um dia inteiro de contrações, ainda estava com 1 centímetro de dilatação. Antes de ir embora tive uma das contrações fortes, foi quando a Mari falou que aquela sim era uma contração de trabalho de parto e que quando eu estivesse com várias daquelas as coisas fluiriam. Mari foi embora. Foi quando eu quase surtei! Eu estava cansada, tinha sofrido várias contrações doloridas, tudo com um sorriso nos lábios pensando que estava perto para eu conhecer meu Henrique, tudo isso para saber que ainda estava com 1 centímetro de dilatação?!? Era super desanimador. Isso porque na semana passada tinha feito um exame de toque e já estava com 1 centímetro de dilatação, então foi uma notícia que me desestruturou completamente... Eu não estava preparada para ouvir aquilo! Não depois de um dia inteiro como o que eu tive!
Mas não sei o que aconteceu depois que a Mari foi embora, não sei se foi o toque, não sei se foi resultante do aborrecimento que eu fiquei depois, mas algo mudou dentro de mim e, logo em seguida, as contrações ficaram regulares de intensidade, ou seja, todas ficaram doloridas (não tinha mais as não doloridas intermediando). E estavam de 3 em 3 minutos. Liguei para a Mari logo em seguida para dizer que se aquilo não fosse trabalho de parto na fase ativa, eu não sei o que seria. E que se fosse demorar até o dia seguinte de manhã, como ela disse que provavelmente demoraria, eu certamente não aguentaria... Ela me deu um "pito" e falou com todas as letras "Se achar que não dá conta, vá para a Maternidade fazer uma cesária com o plantonista". Confesso que ouvir aquilo não foi nada agradável! Jamais estava pensando em cesária, só queria que ela dissesse que estava perto, que faltava pouco tempo para nascer, algo que me encorajasse. Depois que tudo passou, eu realmente entendi porque ela falou isso... Eu realmente merecia uma chacoalhada.
Depois fui para o quarto com a Beta, minha irmã, e o Juca. E a partir daquele momento tudo ficou mais fácil e mais gostoso. A Betinha ficou do meu lado me acalmando e me fazendo massagem quando eu pedia. O Juca colocou uma seleção de músicas que tinha feito para o momento, só com músicas calmas e bonitas. Tocou "Só tinha de ser com você", "Ela é carioca", "Trem da Vida", entre outras... Eu conversava no intervalo das contrações e nas contrações em si eu respirava fundo bem profundamente e expirava pela boca, o que eu percebi que aliviava minha dor.
Após a reunião do MadreSer, a Renata Olah chegou. Deveria ser umas 22:30 hrs. Quando ela chegou eu já estava com muitas dores, e todas as contrações estavam fortes! Mas eu já estava naquele clima gostoso do quarto e ela se juntou a gente. Em cada contração ela fazia uma massagem nas minhas costas que era milagrosa. Sugeriu diminuirmos a luz e então o Juca colocou uma luzinha fraca verde na parede para deixar o ambiente ainda mais no clima. No quarto ficou eu, o Juca e a Renata, todos fundamentais para mim naquele momento. Meu pai, minha mãe e minha avó ficaram quietinhos na sala... Lógico que estavam ansiosos, mas ficaram no cantinho deles e nos deixaram super à vontade. O fato da casa estar cheia não atrapalhou em nada o meu trabalho de parto, até porque nós ficamos o tempo todo no quarto e bem tranquilos. O meu sofrimento, por mais que fosse forte a dor, estava controlado. Naquele momento eu estava orgulhosa de mim, porque eu consegui reverter a dor que eu sentia, em força pensando que o meu Henriquinho ia chegar e que ele precisaria de mim firme e forte. Então, naquele momento eu realmente estava muito feliz e tranquila. Sofrendo com dor, óbvio, mas certamente forte. Perguntei a Renata Olah se ela sabia ler a linha púrpura, que é uma linha que a mulher em trabalho de parto tem na parte de cima das nádegas, ela disse que sabia e disse que pela minha linha parecia que eu estava com 4 centímetros de dilatação. Tendo passado as 24 horas achei melhor ir ao hospital, não porque eu não aguentaria ficar em minha casa, pelo contrário, o clima lá, como eu disse, estava gostoso, e sim porque as contrações já estavam ficando muito fortes para eu conseguir chegar andando e entrar no carro. Então achava melhor terminar o trabalho de parto lá no hospital, até porque também teria quarto de pré-parto privativo e daria para criar o mesmo ambiente lá.
No carro as contrações foram bem fortes, mas logo estávamos no quarto do hospital e lá criamos o mesmo ambiente. A enfermeira foi medir minha dilatação. Estava com 3 centímetros, quase 4. As dores só aumentavam e já estava muito difícil suportar. Sentei em uma bola de pilates, tentava ficar rebolando nos intervalos das contrações para dilatar, sentava na poltrona e tentava ficar quietinha, fui andar no corredor do hospital com minha irmã e a Renata, tomei vários banhos no hospital, para tentar amenizar a dor... Bem, resumindo esse período que foi muito difícil, muito dolorido, muito comprido (o tempo nunca passava): Chegou uma hora, que nada amenizava, tudo era insuportável. A massagem já não dava conta, não conseguia mais ficar conversando, a dor parecia que ia me quebrar no meio, a dor estava insuportável, muito mais forte do que eu achei que seria, mil vezes mais forte do que as contrações fortes que eu tinha tido a tarde! Eu já estava realmente no meu limite!
Bem, como eu ia dizendo, fiquei o máximo com dor possível, quando eu estava de 6 para 7 centímetros realmente eu cheguei em meu limite, pois a dor estava insuportável. E eu já estava com contrações desde o dia anterior, e por isso o meu corpo estava demasiadamente cansado. Então, liguei para a Mari e avisei que meu limite tinha chegado, que já não aguentava mais (e nem queria aguentar mais, já estava esgotada). Mas infelizmente nesse ponto, fui vencida no trabalho de parto. Depois disso se passou mais 2 horas de muita dor, que eu penso que seria evitável, mas que de forma alguma atrapalhou a alegria e a sensação de que meu parto foi lindo. Quando a médica chegou, então, eu já estava com 8 centímetros de dilatação. Eu implorei por anestesia e então a gente foi andando para a sala de parto. A sorte é que era perto, mas parecia que não chegava nunca. Logo que chegamos no centro obstétrico, antes da aplicação da analgesia, a Mari mediu minha dilatação, e eu já estava com 9 centímetros. Os minutos que o anestesista demorou para chegar, para mim foram uma eternidade. Mas, depois que colocou a anestesia, em mais ou menos 15 minutos, a maior parte de minha dor cessou... Ficou um resquício, tão fraquinho, que eu até gostei, porque eu não queria que o meu parto fosse algo meio "plástico", que eu não sentisse nada... Então, graças a uma combinação de Raquianestesia e peridural, sobrou um pouquinho de dor das contrações e continuei com todos os movimentos da perna, ou seja, a anestesia foi perfeita. A partir daí, eu mudei, parecia outra, e o meu parto, certamente foi o melhor do mundo! Tinha sido promovida e tinha chegado ao céu. Foi tudo tão lindo, tão intenso e tudo tão perfeito. A própria Mari depois de tudo me disse que no meu caso a anestesia foi necessária e fez toda a diferença. Olha, como descrever os próximos momentos?? Primeiro, dizendo que foi a melhor coisa do mundo, os melhores momentos de minha vida, que curti de verdade cada segundo do período expulsivo de meu parto. Que tudo para mim foi lindo, e muito emocionante. Bem, para começar após um rápido descanso, com 10 centímetros de dilatação, a Mari forrou o chão com um lençol e eu fui andando até lá. Deitei em uma bola de pilates em uma posição semi ajoelhada. Nesse momento chegou o meu marido, Juca, lindo, com uma filmadora na mão, onde registrou tudo, e a minha irmã, queridíssima, emocionada, com uma máquina fotográfica. Meu marido, posteriormente, disse que quando chegou na sala de parto levou um susto com o meu semblante, pois eu estava tão iluminada, tão radiante, que parecia até que tinha me maquiado. E era verdade, nesse momento, eu me sentia outra, revigorada, forte, eu sabia que estava prestes a vivenciar o momento mais importante de minha vida e eu estava felicíssima de estar tão bem e tão presente naquele momento. Até duas horas atrás, nada daquilo seria possível...
A Mari falou para eu levantar e quando viesse a contração, respirar fundo e soltar o ar, respirar fundo novamente e descer com tudo, de cócoras. A doula Renata Olah estava sentada atrás de mim em um banquinho para me dar suporte na posição. Assim eu fiz, algumas vezes, levantando, respirando e descendo, todas as vezes pensando, "está perto do meu Henriquinho chegar, está perto do meu Henriquinho chegar". Entre essas vezes eu também descia e ficava com uma perna apoiada na frente e a outra de cócoras, eu também descia e jogava o meu corpo para frente... cada hora era um movimento, mas o tempo todo eu muito ativa, participando do meu parto... Realmente eu traria o meu filhinho ao mundo... Com um espelho eu acompanhava a minha dilatação e a saída do Henrique. Primeiro eu vi uma mechinha de cabelo dele e vi que nasceria cabeludo. Quando vi a mecha, pensei que estava perto e ganhei mais energia para fazer força. Na próxima força, o meu Henrique apareceu coroando, e eu fiz carinho na cabeça dele... Tudo naquela posição de cócoras, que foi mais do que abençoada para mim... Na próxima contração eu falei, "vai ser agora" e, em um daqueles momentos mágicos da vida, em que parece que ouvimos arpas sendo tocadas por anjos, em que parece que estamos em cima das nuvens, o meu filhinho, o meu pequeno, o meu Henrique nasceu... Ele saiu amparado pelas mãos da Mari, que imediatamente me entregou e eu peguei aquele serzinho, tão pequeninho, tão meu, de olhinhos abertos, me olhando assustado, nossos olhos se cruzaram e eu soube, naquele momento, que ele seria meu para sempre e que eu seria dele para sempre... Sabe, com palavras é difícil descrever o que eu senti nesse momento, eu gritei de felicidade chorando, foi quando ele começou a chorar, talvez assustando pelo meu grito, aí eu me controlei e comecei a acamá-lo dizendo que ele era muito bem vindo, que estava vindo a um mundo onde todos já o amavam e o esperavam com ansiedade, que ele teria uma vida muito abençoada, que ele poderia contar comigo. Disse também que eu era a pessoa mais feliz do mundo. E foi mesmo, o momento mais intenso e emocionante de minha vida.A Dra. Maria Otília tirou minha camisola e colocou ele no meu seio, enquanto isso o sangue do cordão umbilical foi parando de bater e, quando cessou completamente, a Mari ofereceu para o pai cortar o cordão, mas ele que nesse momento estava 'quase' em estado de choque de tão emocionado, falou que preferia não cortar e a Beta, minha irmã, teve essa honra e ficou felicíssima por participar desse momento tão especial. Enquanto isso eu agarrada em meu filho através de meu seio, foi a coisa mais emocionante que eu podia passar. Após, a pediatra o pegou e foi fazer os procedimentos necessários com o Henrique. Mas tudo rápido, de forma que fiquei pouquíssimo tempo longe dele. Dispensei o nitrato de prata, afinal, quem verdadeiramente se informa da indicação de aplicar esse colírio, não o aplica... O Juca filmou todo o cuidado que a Maria Otília teve com o nosso Henrique e dava para ver a diferença de cuidado entre o o nosso filho, lindo, com carinha tranquila (até quando aplicou a vacina da Hepatite B ele não chorou), e os demais berrando, nervosos, estressados com o parto. Arrisco a dizer que o Henrique não se estressou com o parto, acho que tudo foi muito tranquilo para ele. Logo em seguida ele já veio com roupinha para mim, que a Maria Otília colocou e saímos do centro obstétrico juntos, ele amparado, deitado entre as minhas pernas. Já fomos juntos para o meu quarto, onde ele ficou comigo, até eu sair do hospital.
E foi assim que no dia 26/08/2011, sem ocitocina, de cócoras, com anestesia aplicada com 9 centímetros de dilatação, às 08:15 hrs, meu Henriquinho nasceu.
Então, para finalizar, gostaria de agradecer a equipe humanizada que me acompanhou nesse momento: inicialmente, a Dra. Priscila Huguet, que embora viajando, tenho certeza que também me faria um parto humanizado lindo; a Dra. Mariana Simões, que mais uma vez fez um parto lindo e comprovou o motivo de sua fama nesse tipo de parto, fazendo que o meu parto fosse mais bonito ainda do que em qualquer idealização minha; a Dra. Maria Otília, que no momento do parto até fotógrafa foi (ela inclusive que tirou essa foto do post), e, principalmente, cuidou com tanto carinho de meu filho, sendo de uma competência única, fazendo o parto um momento lindo também para ele, sendo de uma presença imprescindível; e, ainda, a doula Renata Olah, que ficou incansável no meu lado, em todo o meu trabalho de parto, que durou a madrugada inteira, me fazendo massagens milagrosas.
Gostaria de agradecer também toda a minha família, meu pai, minha avó, que vieram de Ouro Fino para acompanhar o nascimento do neto/ bisneto, e, em especial, a minha mãe, que ficou quase um mês comigo cuidando de mim, me acompanhando nesse momento pré-parto, que é um momento difícil, de muita ansiedade, que a gente não quer ficar sozinha, a minha irmã, que se mostrou incansável também acompanhando meu trabalho de parto, me dando forças, tanto física, me apoiando nas contrações, me fazendo massagens, quando forças psicológicas, dizendo que o meu Henriquinho estava chegando, me dando apoio mental e, por fim, ao meu marido, Juca, que, mesmo emocionado, chorando, inclusive em vários momentos de meu trabalho de parto, ficou em meu lado, me ajudando, me amparando, me colocando musiquinhas e, depois que nasceu, se mostrou um pai exemplar, excelente, dividindo o título de melhor pai do mundo com o meu pai... E, ainda digo mais, eu já era super apaixonada pelo Juca, depois que o nosso filho nasceu a minha paixão aumentou, multiplicada pela admiração que fiquei de ver como ele é ótimo marido e pai... Lindo, estou feliz demais!
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