Cansei de viver nos livros. Eu precisava viver os sonhos

 Cansei de viver nos livros. Eu precisava viver os sonhos. Desde pequena sempre fui muito responsável "Primeiro a obrigação, depois a diversão", foi uma das primeiras lições passadas por meus pais, a qual funcionou como uma lanterna em minha vida. Mesmo cansada ou precisando me divertir um pouco, eu era tão presa a essa lição, que só me dava o direito de descansar ou ver um filme na televisão depois de minhas obrigações estarem cumpridas. Talvez até pela força desse dever moral, foi tão difícil tomar uma decisão que seguisse o meu coração, primeiramente ao ver que tinha escolhido um curso,  Direito, que não me fazia feliz e, em segundo momento, em me deparar com a situação de estar trocando a infância dos meus filhos pelo fruto dessa escolha tomada. Explico: no primeiro ano de faculdade, tive sérias dúvidas sobre a decisão de seguir o curso de direito, já no segundo ano tive certeza que não deveria, mas não sabia também qual caminho tomar, então, na dúvida, continuei seguindo os livros jurídicos. Depois de 5 anos de estudos, passei em um concurso da área jurídica que me daria estabilidade, um bom salário e, consequentemente, independência financeira. Tudo o que todos querem, não é? Só tinha um problema, Direito nunca foi feito para mim. Sou ruim com nomes, datas, decorebas, sou feita de uma memória visual incrível, que adora ser testada, provocada, reinventada. Adoro criar, inventar, desafios, sou criativa, não consigo aplicar por si só, amo propor soluções. Mas tudo bem,  estava indo, eu não era a melhor, já que nunca consegui aproveitar minha criatividade na minha profissão, mas também não ia mal.  Pelo contrário,  era dedicada, fazia o meu trabalho honesto, tenho certeza que fiz várias peças muito boas, e assim ia levando, em uma área que não me realizava. No entanto, a minha cabeça era a mesma de sempre e nesse momento de minha vida eu também me deparei com o momento mágico da maternidade.  Isso foi O PONTO modificador para mim. Não que a partir desse momento eu tenha me dado conta de que eu estava sendo somente "livros" e sim porque a partir desse momento eu comecei a dar mais valor ao tempo bem vivido. Percebi que meus filhos cresciam e eu perdia grandes momentos de seus desenvolvimentos,  pois estava trabalhando. Percebi que acordava já colocando roupa nos dois para levá-los na escolinha e  só ia revê-los quando o dia já estava escuro, para levá -los para casa e ir para cozinha fazer a comida.   Via eles tão pequenininhos, em um momento tão único, e não conseguia efetivamente curtir isso, não conseguia VIVER aquele momento! Eu só tinha o prazer de conhecer e curtir meus filhos no fim de semana... mas a vida é muito para só se viver nos fins de semana! E foi aí então que comecei a perceber que a minha balança entre " sonhos e livros" estava muito desigual.  Comecei a me frustrar com minhas escolhas, e aí já plantei a sementinha de que em um futuro próximo eu conseguiria balancear melhor a minha vida para me realizar mais como pessoa e curti -los melhor. Nesse momento, também, eu percebia que o meu filho mais velho, Henrique, então com 4 anos,  precisava de mim. Ele sofria com crises, manias,  e eu não conseguia ajudá -lo. Não tinha tempo para pesquisar sintomas, possíveis causas, bons profissionais para levá-lo... eu me sentia em círculos, indo da escola para diversas consultas do plano, que não me levavam a lugar algum. A escola pedindo ajuda,  pedindo pelo amor de Deus, eu querendo ajudar sem conseguir, contando com a boa vontade do chefe, lidando com frustrações emocionais no trabalho e o Henrique no meio daquilo tudo...Um dia me dei conta de que a vida é muito mais do que cumprir as obrigações. Percebi que o certo deveria ser "Obrigação e Diversão devem andar juntas", o que contrariava uma das premissas de minha vida ("Primeiro a obrigação, depois a diversão"). Mas hoje, 34 anos depois, acho que encontrei a regra. A regra é achar o equilíbrio "entre sonhos e livros" e,  então, buscando o equilíbrio,  há um pouco mais de um ano, PEDI LICENÇA SEM VENCIMENTOS do meu trabalho, e, assim, sem ganhar $$$, estou até hoje me reequilibrando! E, COMO VALEU A PENA! Aprendi que quando a família vai bem, tudo vai bem também! O trabalho é o meio e não o fim! Tem tantas pessoas que querem ser bem sucedidas e esquecem do resto. Respeito as pessoas que pensam assim, mas a vida é feita de escolhas, e a minha escolha é sempre a FAMÍLIA. É viver a vida sem se perder no caminho, só nas coisas que verdadeiramente importam! Quando eu tive esse "click " aprendi de verdade a ser bem mais feliz! A ser feliz com pouco. Perdi a cultura do consumismo e hoje sou bem mais leve e minha vida mais simples.  Hoje temos pouco dinheiro, mas sou muito mais feliz do que antes!
E o mais importante para mim: enfim consegui ajudar o meu filho! Descobri excelentes profissionais que fizeram a diferença em sua vida (mas isso dá um capítulo à parte, que talvez um dia eu divida aqui).
 Resumo da história: tudo precisa estar em harmonia para funcionar bem, a cabeça e o coração. E agora estou nessa fase, organizando o coração: cuidando de meus filhos, curtinho com calma, descobrindo habilidades que me dão prazer, cultivando hobbies que quero que me acompanhem para o resto de minha vida... Por enquanto "os livros" estão na estante, porque estou vivendo os sonhos que sempre tive e que estavam adormecidos... Quando eu tiver dado espaço suficiente para os meus sonhos se propagarem de forma a tomarem conta de meu ser de forma a não me abandonarem mais, eu volto a pegar "os livros" da estante, e volto para a minha profissão antiga, mas com mais sabedoria e, consequentemente, felicidade, uma vez que lê muito melhor quem sabe sonhar...