O planeta Terra é perfeito, com vegetação densa, grandes rios e lagos, com uma grande riqueza de biodiversidade e genética, além de solos perfeitos para o cultivo, pronto para sustentar cada vida existente na Terra. Tudo o que, contudo, seria necessário para todos viverem nesse mundo tão rico, seria a consciência de que para usufruir de todas essas riquezas da Terra, faz-se necessário saber viver em conjunto, ou seja, entender que os recursos devem ser compartilhados, em um ritmo sustentável, permitindo que a Terra consiga se recuperar após prover o recurso. Mas tudo o que está derrubando esse sonho e fazendo com que todos tenham um horizonte de vida sustentável muito menor do que esperam é justamente o oposto disso, ou seja, o sonho que lhe foi vendido de que a sua "merecida" individualidade seria possível. Esse sonho está no modo de vida e permeia todas as relações de consumo. Assim, todos, de fato, não foram treinados a pensar no coletivo.
Nesse sentido, o sonho da casa própria que, há tempos, vem sendo vinculado nas mídias e redes sociais, é um sonho egoísta, pois embora todos deveriam ter direito a uma moradia digna, vendeu-se a ideia de que uma casa suficiente boa para sustentar uma família teria que ser grande, de preferência com piscina, vários quartos, banheiras, ar condicionado, pisos caros... mas será que este, de fato, é um sonho plausível e sustentável? Será que todos não deveriam ser treinados para um dia conquistarem o sonho da casa própria, que seria uma casa que tivesse todos os itens necessários para sustentar uma vida saudável, como água tratada, servida com tratamento de esgoto, provida de luz, gás, mas respeitando o direito do próximo de também ter uma casa que possuísse todos esses recursos? A casa própria poderia, sim, dar conforto e segurança para o proprietário, mas certamente não precisaria ser gigante, nem revestida com as melhores pedras, já que, afinal, essas também são recursos finitos. Será que, por exemplo, todos deveriam entender correto tomar banhos intermináveis? Mas por que raramente é questionado esse consumo exacerbado atualmente tão intrínseco no modo de vida da maior parte da população mundial?
Trazendo essa resposta para o Brasil, atualmente o segmento que mais cresce e lucra no Brasil é o segmento de incorporadoras e imobiliárias. Será que seria do interesse deles deixar crescer essa ideia de não sustentabilidade das atuais premissas de consumo? Ou será que elas perderiam grande parte dos seus lucros ao aplicarem as regras já existentes que buscam garantir empreendimentos mais sustentáveis? Por que, de fato, não se consegue adotar como pré-requisito um estudo sério da viabilidade ambiental do empreendimento imobiliário no local antes do empreendimento ser instalado? Um estudo sério evitaria que empreendimentos passassem por cima de questões ambientais e ecológicas fundamentais para a preservação da vida (como empreendimentos imobiliários em áreas de Mata Atlantica, da Amazônia Legal, de Cerrado, de proteção hídrica, APP, entre outras). E, ainda, por que o cadastro federal das Unidades de Conservação existentes -sejam elas federais, estaduais e municipais- está tão defasado, não sendo atualizado pelas demais esferas de governo (estadual e municipal)?
E, ainda, a maior causa do aquecimento global é a exploração de combustíveis fósseis. No entanto, a ideia de que todos "merecem" ter carros na sua garagem ainda prevalece (quanto mais carros e mais caros entende-se melhor). Não seria muito mais sustentável todos poderem usufruir de uma ampla rede de transporte coletivo? Aqui novamente o interesse privado prevalece.
Nesse sentido, a notícia boa é que sim, há soluções para o aquecimento global, no entanto, a má notícia é que todas elas dependem da iniciativa dos principais gestores mundiais baterem o martelo contra interesses que envolvem muito dinheiro e muito poder. Porém quem tem poder não quer dividir, então resta saber se essa lógica, um dia, vai conseguir ser mudada e, se sim, se será a tempo de reverter o processo de declínio das condições de vida que já está ocorrendo causado pelas alterações climáticas.
Àqueles cujo texto acima incomodou, parabéns, pois é para isso mesmo que ele existe: para incomodar. Esse incômodo é a centelha motriz que gera a curiosidade da pesquisa, dando causa ao surgimento da consciência ambiental. E somente com grande parte da população mundial consciente será possível a procura por soluções magistrais que possam responder esse problema encontrado, que é a insustentabilidade da manutenção da vida frente aos problemas ambientais atualmente existentes, sobretudo, o aquecimento global.
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